Transpasse: um abraço no colo do mundo.

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Um Abraço:

A Exposição Coletiva Internacional Itinerante Transpasses nasceu da amizade.

Um abraço, dois amigos e… logo,  amigos dos amigos migram por ofício, transatlânticos como a memória de naus, navegam mares, navegam ares, espaços cibernéticos e afetivos nos corações uns dos outros.

Tudo para celebrar, em cores e verso,  o que os une, cada um desde sempre, da arte a sua parte.

Esta  é mais que uma exposição, é  a curadoria de um Movimento que nasceu dos corações amorosos de dois artistas amados em suas terras:

Júlio Resende, da Cidade do Porto, Portugal, Homenageado neste Projeto e

Sérgio Lemos, artista recifense que soa a frevo e maracatu e que é o seu curador.

Amizade tão bem representada pelo singelo traço de Júlio no desenho que ilustra a capa deste site: mãos de cá que aproximam, em ondas, mãos de lá.

Júlio e Sérgio construíram uma amizade feita de arte e que floresceu ao longo dos anos, pelas mãos de Sérgio, mesmo após a ausência de Júlio.

Amizade que lhe trouxe as de Laranjo, Centeno, Zulmiro, Manuel Aguiar e que gerou a ideia que os fez unirem-se, neste evento, aos artistas pernambucanos Botelho, Arraes, Anna Guerra e a mim próprio: Transpasse[s].

Curadoria:

Curador é aquele que cuida, seleciona e une, num só conceito, os diversos. Nunca houve uma mostra onde este conceito fosse mais claro:

a celebração da amizade entre artistas unidos pelo trabalho que trazem para perto seus pares de além-mar,  com a generosidade de se abrir ao desconhecido.

Amizade histórica, que não se restringe ao vínculo pessoal, que transforma a união na contestação de inimizades íntimas, como entre subjugadores e subjugados.

O tipo de inimizade que nos dá força de lutar e nos opor, como a que se refere Fulcanelli em suas “Mansões Filosofais”.

Diz ele quando analisa os dísticos extraídos  das iluminuras dos caixotões do teto do Castelo de Dampierre,(França):

“INIMICA AMICITIA” ( assim mesmo, em latim) *

A arte, está ameaçada, hoje, no Brasil (e em diversos lugares do mundo, onde a tecnologia e pragmatismo esmaga o humanismo).

Portugal, nossa Pátria Mãe, afetivamente abre seus braços a milhares de brasileiros como forma de aconchegar a cultura diversa de origem lusófona.

Por amor à liberdade! bandeira que Pernambuco também sempre levantou.

Nessa união de diversos, reside a cura que Sergio nos oferece com a sabedoria mansa e cordata do artista consciente.

Sem o outro, não há saída.

TRANSPASSE[S]:

Em Transpasse[s], título criado para esta exposição pelo escritor, poeta, crítico e cineasta, também pernambucano, Fernando Monteiro, muito conhecido em Portugal, corpos culturais distintos abrem-se ao abraço em ondas de amizade que, no entanto, não excluem episódios de conflito, como as que um dia, há cinco séculos, trouxeram os portugueses ao mar da Bahia.

Fica destinado, assim, ao público da mostra, fazer suas próprias novas descobertas.

Odilon Cavalcanti, vésperas da primavera de 2019

Veja o que diz Fulcanelli:

* ” Caixotão  6- Uma hera está figurada em torno de um tronco de árvore morta, de que todos os ramos foram cortados por mão humana. A filáctera que completa este baixo relevo ostenta estas palavras: INIMICA AMICITIA”.


” A amizade inimiga”


O autor anônimo da Ancienne Guerre des Chevaliers, num diálogo entre a pedra, o ouro e o mercúrio, faz dizer ao ouro que a pedra é um verme cheio de veneno.

E acusa-a de ser a inimiga dos homens e dos metais.

Nada de mais verdadeiro:

isto ensina que outros  exprobam  à nossa matéria conter um tremendo veneno, de que só o odor basta, afirmam eles, para provocar a morte.


No entanto, por outro lado, é deste mineral tóxico que é feita a medicina universal.

A que nenhuma doença humana resiste, por incurável tenha sido reconhecida.

Mas o que lhe dá todo o valor e o torna infinitamente precioso aos olhos do sapiente é a admirável virtude que possui de reivindicar os metais reduzidos e fundidos, e de perder as suas propriedades venenosas, deixando-lhes sua própria atividade.

Assim, aparece como instrumento da ressurreição e do resgate dos corpos metálicos, mortos sob a violência do fogo da redução, razão porque traz no seu brasão, o sinal…”

Fulcanelli em extrato de “As Mansões Filosofais”.